Artigo: Retrocesso Brasil 2022

Data da postagem: 20/01/2022

O Brasil chegou em 2022 com lama, lágrimas, fome e subdesenvolvimento. O desemprego e o preço dos alimentos que tiveram no ano passado alta de 28%, a maior alta dos últimos 10 anos deram fôlego para a insegurança alimentar, que hoje faz com que 117 milhões de pessoas no país tenham dificuldade em fazer as 3 refeições por dia, conforme estudo da FAO (Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas). As chuvas torrenciais que castigaram o sul da Bahia deixando um rastro de prejuízo e milhares de desabrigados são apenas um capítulo a mais na dramática cena social brasileira. A defesa civil contabiliza que dos 417 municípios baianos 116 foram tomados pelas águas, resultado da forte precipitação pluviométrica que registrou o seu maior volume de chuvas para um mês de dezembro nos últimos 32 anos.

Este desastre natural na Bahia vem somar-se a outro desastre econômico que ocorreu naquele estado após a conclusão da privatização em novembro do ano passado da refinaria Landulpho Alves (Rlam), localizada no município de São Francisco do Conde. A refinaria, a primeira nacional de petróleo, construída pela Petrobras em 1950, tem posição estratégica na produção de derivados para os municípios baianos e também para outros estados da região nordeste e norte mineiro. A privatização se deu num processo nebuloso, recheado de denúncias de ilegalidades e subfaturamento no preço de venda da subsidiária. As denúncias foram feitas por entidades como o Sindipetro-BA (Sindicato dos Petroleiros da Bahia), FUP (Federação Única dos Petroleiros) e AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobras). Apesar de todas as contestações jurídicas e pareceres técnicos contrários a privatização, o processo de venda da refinaria (RLAM) e de seus ativos logísticos foi concluído pela bagatela de 1,8 bilhão de dólares para o Mubadala Capital, um fundo de investimentos dos Emirados Árabes Unidos, em 30 de novembro de 2021. O resultado para os consumidores baianos, menos de dois meses após a privatização da refinaria é que a Bahia tem hoje a gasolina e o diesel mais caros do país.

Esta refinaria representa 14% da capacidade total de processamento de petróleo no Brasil e foi a primeira das oito refinarias que a atual gestão da Petrobras planeja entregar ao setor privado, numa política suicida de desinvestimento e desnacionalização da indústria de petróleo, com fortíssimos impactos econômicos negativos para os consumidores e para a atividade produtiva no país. É, no mínimo, estranhíssimo, uma empresa pública como a Petrobras geradora de alto fluxo de caixa, integrada do poço ao posto e com subsidiárias lucrativas que atuavam em 7 setores (1 – produção e exploração; 2 – petroquímica; 3 – refino; 4 – distribuição; 5 – transporte; 6 – energia elétrica; 7 – biodiesel), opte no governo Bolsonaro na sua política empresarial em concentrar suas atividades num único setor de produção e exploração, entregando de bandeja os demais 6 setores para gigantes do setor de energia, petroleiras multinacionais e fundos de investimento. Apesar da necessária transição para as energias limpas o petróleo será a principal matriz energética do planeta nos próximos 50 anos e atualmente o Brasil, detentor da segunda maior jazida de petróleo no mundo (Pré-sal) que abastece 70% do mercado nacional, anda na contramão da tendência mundial, sendo o único país a se desfazer de suas reservas estratégicas de energia. Vale lembrar que a privatização e arrendamento dos ativos da Petrobras (poços do Pré-sal; BR Distribuidora; Liquigás; redes de gasodutos no sul, norte e nordeste; fábricas de fertilizantes; refinarias da Bahia e de Manaus; e outros ativos) ocorreram à preços aquém do seu real valor de mercado.

As águas que afogaram a Bahia são tristes e igualmente triste é saber que o Brasil, país que poderia estar em outro patamar de desenvolvimento, se houvesse o correto aproveitamento de suas riquezas naturais, segue na rota do retrocesso e definha no lamaçal social e econômico causado pela desintegração e desnacionalização de uma rica pobre Petrobras.

*Matéria publicada na Revista Atente Online

Marco Aurélio Siqueira | Radialista /Jornalista (Sinsep-PI).


Por Marco Aurélio Siqueira | Radialista /Jornalista (Sinsep-PI)